A Montanha Mágica (no original em alemão Der Zauberberg) é
um livro escrito por Thomas Mann em 1924. Um dos romances mais influentes da
literatura mundial do século XX,[1] foi importante para a conquista do Prêmio
Nobel de Literatura em 1929 por Mann. É um exemplo clássico da literatura que
os alemães classificam como Bildungsroman.
Sobre a obra, Malcolm Bradbury escreve:
“Seria, segundo ele [Mann], uma viagem à decadência;
contudo, ele também a qualificou como a busca da ‘idéia do homem, o conceito de
uma humanidade futura que vivenciou o mais profundo conhecimento da doença e da
morte’...
Thomas Mann iniciou a escrita de "A montanha
mágica" em 1912, o mesmo ano em que sua mulher Katharina Mann (Katia) foi
internada num sanatório de Davos na Suíça, para se curar de uma tuberculose. O
livro teria sido inspirado nesse episódio.
Em 1915, Thomas Mann interrompeu o seu trabalho no
manuscrito, indeciso sobre o fim a dar ao romance. Nesta altura, Mann
encontra-se em conflito com o irmão Heinrich Mann, um apoiante da França e dos
aliados, que desprezava o espírito filisteu, provinciano, totalitário, acrítico
dos alemães e de seu Kaiser Wilhelm II, como tinha ficado bem patente no seu
romance "Der Untertan" (o súdito), publicado pouco antes do início da
Guerra. Thomas Mann era, por contraponto ao irmão, nesta altura, (ainda) um
espírito mais arreigado às suas raízes culturais e à sua pátria. Apenas mais
tarde, na Segunda Guerra Mundial, Thomas Mann viria a adquirir um espírito mais
crítico sobre a sua própria sociedade e cultura. Em "Reflexões de um homem
não-político", de 1918, Thomas Mann defende a cultura alemã contra aquilo
que ele afirma ser uma ideologia dogmática do ocidente. Como se disse, Thomas
Mann iria mudar muito na Segunda Guerra Mundial, onde estará abertamente ao
lado dessa suposta ideologia. Thomas Mann continuou a escrever "A montanha
mágica" em 1919, já depois da guerra. Terminaria o romance apenas em 1924,
ano da publicação. Entretanto, muitas observações dele sobre a experiência da
Alemanha na República de Weimar tinham influenciado o livro.
Às vezes apontado como um livro sem enredo, a obra trata da
história de um jovem engenheiro naval alemão, de Hamburgo, chamado Hans
Castorp. Ele visita o primo Joachim Ziemssen num sanatório destinado ao tratamento
de doenças respiratórias localizado em Davos, nos Alpes suíços, pouco antes do
começo da Primeira Guerra Mundial. Apesar de ser encaminhado ao sanatório
apenas para uma visita e para tratar uma anemia, Hans Castorp vai aos poucos
mostrando sinais de que tem tuberculose pulmonar e acaba estendendo sua visita
ao sanatório por meses e anos, pois sua saída é sempre adiada por causa da
doença.
Nesse período, Castorp, pouco a pouco, afasta-se da vida
"na planície" e conquista o que chama de liberdade da vida normal.
Desliga-se do tempo, da carreira e da família e é atraído pela doença, pela
introspecção e pela morte. Ao mesmo tempo, amadurece e trava contato mais
profundo com a política, a arte, a cultura, a religião, a filosofia, a
fragilidade humana (incluindo a morte e o suicídio), o caráter subjetivo do
tempo (um dos temas mais importantes da obra) e o amor.
O sanatório forma um microcosmo europeu. Os numerosos
personagens do livro, muitos com descrições e reflexões detalhadas, são
representações de tendências e pensamentos que predominavam na europa do
pré-grande-guerra, conhecido como o período dos anos loucos. Em particular os
personagens Lodovico Settembrini (humanista e enciclopedista) e Leo Naphta (um
jesuíta totalitário) representam o contraste entre ideias liberais e
conservadoras, respectivamente.
Também se destacam o hedonista Mynheer Peeperkorn e Madame
Clawdia Chauchat, por quem Castorp desenvolve interesse romântico e sutilmente
sensual, cujo climax está genialmente descrito por Mann em páginas
verdadeiramente universais.
A subjetividade da passagem do tempo abordada por Mann
reflete-se na estrutura do livro. A narrativa é ordenada cronologicamente, mas
acelera ao longo do romance. Desse modo, os primeiros cinco capítulos relatam
apenas o primeiro dos anos de Castorp no sanatório, em grande detalhe. Os
restantes seis anos, marcados pela monotonia e pela rotina, são descritos nos
últimos dois capítulos. Essa assimetria corresponde à própria percepção
distorcida de Castorp quanto à passagem do tempo.
No final da narrativa, inicia-se a Grande Guerra, Castorp
une-se às fileiras do exército, e sua morte iminente no campo de batalha é
sugerida. Apesar do processo de amadurecimento do personagem ao longo do livro,
não está claro, no final, se ele formou uma sólida individualidade, e sua
última aparição se dá como um soldado anônimo, entre milhares, em um campo de
batalha qualquer da Primeira Guerra Mundial.
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