segunda-feira, 19 de agosto de 2019

A Invasão do Inferno - Júlio Góes


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          O mundo anda mesmo de cabeça pra baixo. Não é que o velho diabo anda sem ter o que fazer! Pois é , logo ele, o capiroto, que sempre andou tão ocupado a inserir i9ntrigas e a fazer das suas em todos os cantos. Quem diria ! O capeta desocupado! E a protestar. Queixa-se o beiçudo de que os humanos o superaram. Teriam adquirido tamanha proficiência nas artes da malignidade que o deixaram sem função.
         E olha que desta vez o belzebu parece ter razão. São perfeitamente procedentes os seus protestos. Afinal, o que resta ao tinhoso fazer nestes tempos? Semear conflitos? Ora, os humanos já se incumbem disto com extrema perícia. Atiçar o ego em sua insaciável cobiça por fama, poder5 e dinheiro? Isto ninguém faz com mais competência  que os nossos irmãos de carne e osso. Atear fogo na confiança e nos valores morais que sustentam os relacionamentos? Bem, isto parece já ter ido para o beleléu há muito tempo.
         A inversão dos papéis é de ordem inimaginável. Antes era o homem que vendia a alma ao demo, agora é este que vai ao mercado vender a sua. Afinal o canheta precisa trabalhar, não pode dar-se ao luxo de  ficar desempregado. Nessa ânsia por ocupação, ele e sua irmã - aquela que possui o domínio da modernidade e tem sido a principal promotora do narcisismo no mundo atual - brigam por um novo planejamento estratégico e uma nova política para o inferno.
        Franquearam-no aos humanos, que passaram a ter liberdade de ir e vir, e promoveram programas de intercâmbio em que oferecem o conhecimento acadêmico milenar de seus especialistas em perversão, caos, confusão mental, sensacionalismo e outras matérias sempre muito disputadas. O coisa-ruim, sem espaço na área executiva, tornou-se um desocupado esquecido, um mísero joão-ninguém.
       A invasão dos humanos ao inferno em busca da expertise do maligno, é o que Júlio Góes conta, com humor e profundidade, nesta sátira filosófica sobre o mundo e o tempo em que vivemos. Mídia e poder, ego e vaidades, perda de valores e manipulação de consciências - tudo está neste livro. Uma crítica divertida e trágica. Divertida, pois mesmo no inferno, no pior dos mundos, é possível rir. Trágica, porque é inevitável perguntar: rir de que, afinal?
(orelha da primeira edição )

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"Diante das cenas do mundo humano contemporâneo, as velhas falanges demoníacas se deparam com a sua superação de sua soberania indiscutível. É a idade do "tudo vale", da mais-valia telemática e virtual, das maquinações ultra-demoníacas, justamente porque se tornaram muito mais poderosas do que os ardis e armas dos velhos demônios. Com isso, de forma cênica deliberada, Júlio quer escandalizar as sensibilidades hipocritamente constituídas". 
Dante Augusto Galeffi.

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