Como
todos os livros que relatam atrocidades de qualquer guerra, em
particular as do Holocausto, “O Homem Que Venceu Auschwitz” impressiona.
Cria forte mal-estar ao retratar os requintes de crueldade de que um
ser humano é capaz em relação ao próximo. Por outro lado, relembra como a
solidariedade e a força de vontade podem mudar o curso da história de
cada um. Nessa obra, o inglês Denis Avey, de 90 anos, ex-soldado e
prisioneiro na Segunda Guerra Mundial, relata a experiência que viveu
aos 20 a Rob Broomby, ex-correspondente da BBC em Berlim.
Se o testemunho de Avey sobre a guerra já é assustador, pior é a
proximidade que teve com o campo de concentração de Auschwitz.
Impressiona ainda mais a sua coragem de entrar naquela pequena amostra
de inferno deliberadamente, após correr grande perigo e trocar de roupa
com um de seus habitantes – se é que assim se pode chamar quem foi
obrigado a existir naquele lugar.
Ainda assim, quem abre o livro movido pelo título tem de ter alguma
paciência. O relato detalhado da participação de Avey na guerra até ser
feito prisioneiro pelos alemães e jogado no campo de trabalhos forçados
vizinho a Auschwitz é cansativo. Minucioso demais. Até chegar ao ponto, o
leitor tem de atravessar mais de cem páginas. Algumas revelações,
porém, são fundamentais para entender o que o moveu a tomar atitude tão
temerária.
Avey era um rapaz de pouco mais de 20 anos quando se alistou na
guerra mais por espírito de aventura do que por patriotismo. Tinha boa
educação e carregava no DNA um senso ferrenho de justiça. Passou pelos
preparativos para entrar em combate e tomou consciência de que todos
estavam sendo transformados em máquinas de matar. Por fim, viveu na
carne a dureza dessa aventura, que se transformou em pesadelo ao lado da
sua companhia em combate com os italianos na África.
Experimentou privações, doenças, medos e perdas até que foi feito
prisioneiro por duas vezes. Na primeira, conseguiu escapar de forma
espetacular do navio que o levaria à prisão e naufragou, deixando-o à
deriva por dias até ir parar em algum ponto do litoral da Grécia. Na
segunda, foi encerrado no campo de trabalhos forçados E715, bem ao lado
de Auschwitz III.
A partir daí, a história toma outro rumo e provoca no leitor uma
mescla de revolta com sentimentos de esperança ao ver que, mesmo nos
locais mais desolados, ainda se pode encontrar resquícios de
solidariedade. Avey protagonizou um desses casos ao trocar de lugar –
por duas vezes, durante um fim de dia e uma noite – com um prisioneiro
judeu chamado Ernst.
Ele decidiu se infiltrar no campo para depois testemunhar diante da
humanidade o que acontecia lá dentro. E presenciou barbaridades, como um
soldado bater na cabeça de um resistente jovem judeu e feri-lo até a
morte. Ou o assassinato de um bebê, no colo da mãe, com o violento tapa
de um agente nazista irritado com o seu choro.
Com o fim da guerra, os prisioneiros foram libertados – a descrição
dessa libertação também é angustiante. Avey nunca mais viu Ernst. Por
meio da irmã dele – para quem havia conseguido enviar notícias do irmão
durante o confinamento -, soube que sobreviveu. Depois de viver na
Inglaterra, Ernst se estabeleceu como comerciante bem-sucedido nos
Estados Unidos.
Avey também recuperou a sua vida e se firmou. Casou-se, teve filhos e
netos. Mas passou por um transtorno de estresse pós-traumático que o
manteve calado sobre essa história por quase 60 anos.
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O livro conta a extraordinária história real um soldado
britânico que se infiltrou no campo de concentração de Auschwitz. No verão de
1944, Denis Avey trabalhava num campo de prisioneiros de guerra próximo ao
campo de concentração de Buna-Monowitz, conhecido como Auschwitz III. Já tinha
ouvido falar da brutalidade no tratamento dos prisioneiros de lá e estava determinado
a testemunhar o que podia. Traçou, então, um plano para trocar de lugar com um
prisioneiro judeu e infiltrou-se no campo de concentração, onde foi a
testemunha ocular da barbárie que lá ocorria.Durante muitas décadas, Avey não
se sentiu preparado para relatar a experiência do passado, porém agora, aos 91
anos, revela em seu livro tudo o que presenciou. O homem que venceu Auschwitz
está desde seu lançamento na lista dos mais vendidos britânica.
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